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“É como ser estrangeiro no seu próprio País”, ilustrou Tiago Santiago de Sousa Lopes, médico e professor do curso de Medicina da Ufersa, ao descrever a sensação de atender a sua primeira paciente surda pelo projeto de Extensão Práticas Ambulatoriais em Libras, que tem capacitado estudantes e profissionais para o atendimento ginecológico e de obstetrícia a mulheres com deficiência auditiva de Mossoró e Região Oeste.

A iniciativa do projeto partiu do farmacêutico Francisco Alexandre de Araújo Almeida, técnico de laboratório no Centro de Ciências Biológicas e da Saúde – CCBS e estudante do curso de Medicina ao participar de uma formação de Línguas Brasileira de Sinais – LIBRAS. “Depois da formação, eu fiquei imaginando a dificuldade que essas pessoas devem encontrar quando precisam de um atendimento de saúde”, justifica ele.

Depois da formação, eu fiquei imaginando a dificuldade que essas pessoas devem encontrar quando precisam de um atendimento de saúde

Alexandre Araújo, coordenador do Projeto Práticas Ambulatoriais em Libras

O passo seguinte foi um contato mais próximo com a Associação de Surdos de Mossoró – ASMO, de onde veio a confirmação desses obstáculos. A dificuldade de comunicação e a quebra da privacidade no atendimento são os dois pontos que distanciam a comunidade surda dos serviços médicos. Esses fatores se acentuam devido à falta de habilidades dos profissionais com a Língua de Sinais e porque, quase sempre, os/as pacientes vão acompanhados/as de parentes e amigos para intermediar a comunicação.

“A indicação de sintomas e hábitos de vida comunicados pelo paciente ao profissional de saúde é essencial para a construção do diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças”. Esses fatores foram vividos de perto pela dona de casa, Maria de Fátima da Silva, 41, que procurou a Associação para intermediar o atendimento assim que soube do Projeto.

Ela foi recepcionada pela enfermeira Graciella Jales, responsável pela triagem inicial dos dados antropométricos, como peso e altura, e em seguida encaminhada para o atendimento realizado pelo estudante Arthur Assis, do sexto período, acompanhado do médico Tiago Santiago. “É uma grande oportunidade porque a gente fica mais à vontade e o acompanhamento é muito cuidadoso”, disse, contente, Fátima, após a consulta.

Adriana Angélica da Silva, presidente da ASMO, destaca a importância do projeto para as pessoas envolvidas na Associação. “Foi uma grande novidade. Há uma timidez e resistência da comunidade surda. Agora eles passaram a procurar mais questões da saúde, passaram a se conhecer mais. Alguns já estava cansado de não conseguirem a consulta porque sempre dependiam de alguém”, relata.

O Projeto
O projeto já conta com 29 estudantes cadastrados de todos os semestres do curso, que juntamente com os servidores participam da capacitação presencial às terças-feiras para se comunicarem em LIBRAS e, em seguida, os conhecimentos adquiridos são estabelecidos na prática ambulatorial.

Nessa fase inicial, os atendimentos são, prioritariamente, voltados às mulheres no ambulatório de Ginecologia e Obstetrícia, que têm à frente os professores Tiago Santiago e Osvani da Silva Goes Mendes. “O serviço é gratuito e contribui tanto para o atendimento à comunidade quanto para a formação dos nossos estudantes, que abraçaram a causa e estão muito envolvidos”, diz a professora Osvani.

Dois estudantes do curso atuam como bolsista e Adriana Angélica contribui também na condição de prestadora de serviço como Instrutora. A iniciativa foi selecionada em Edital de Projetos 2018 da Pró-reitoria de Extensão e Cultura – PROEC da Ufersa e, além dos atendimentos e dos encontros de formação, a equipe também ministra palestras informativas, oficinas e cursos voltados à comunidade surda.

“O principal objetivo do projeto é viabilizar o acesso à saúde pela comunidade surda. Muitos são carentes e não podem pagar por uma consulta, a Ufersa abriu as portas. Esperamos que, logo em breve, a gente consiga também estender os atendimentos a outros públicos”, diz Alexandre Araújo, coordenador do Projeto.

Saúde inclusiva
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, em 2010, a deficiência auditiva já respondia por pouco mais de 21% das pessoas que apresentam algum tipo de deficiência. No Rio Grande do Norte, estima-se uma população de 192 mil surdos e deficientes auditivos, sendo que, desse total, 4.800 não conseguem ouvir de modo algum, 36.900 apresentam grandes dificuldades e 150 mil apontam ter alguma dificuldade.

O acesso aos serviços de saúde é um direito de todos, sem distinção. A Lei 10.436, de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de SinaisLibras, já estabelece em seu artigo 3 que as “instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva”.

O Projeto de Extensão Práticas Ambulatoriais em Libras da Ufersa cumpre importante papel na medida em que as atividades realizadas unindo profissionais e a comunidade surda externa fortalece a permanência e a participação dos surdos no âmbito socioeducacional, além de garantir o sigilo nas consultas e a inclusão da comunidade surda no meio social.

Números
150 pessoas surdas estão envolvidas na Associação de Surdos de Mossoró.
29 estudantes do Curso de Medicina da Ufersa participam do Projeto.
3 mulheres surdas já receberam atendimento na fase inicial do Projeto.
20 projetos e ações de extensão foram pelo Curso de Medicina da Ufersa em 2018.

Convite
No vídeo, Eliedson Gonzaga faz um convite em Libras para os associados da ASMO participarem das atividades promovidas pelo curso de Medicina da Ufersa: “Olá pessoal da ASMO! Já chegamos aqui na Ufersa, eu, Bruno e Mikeias, junto com alunos ouvintes do Curso de Medicina. Viram, surdos? Venham para cá… Vem, vem, vem!

Saiba mais
Conheça o Curso de Medicina da Ufersa
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Leia a Lei que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais

Redes Sociais
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Fonte: http://www.andifes.org.br/ufersa-oferece-atendimento-ambulatorial-para-mulheres-em-libras/

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