Acessibilidade, um termo que está diretamente relacionado à inclusão, tem se tornado a diretriz de instituições que têm uma atuação orientada para o agir ético, cidadão e democrático.
No caso das universidades, as iniciativas voltadas à acessibilidade com o objetivo de contemplar pessoas com deficiências variadas têm permeado o fazer acadêmico em suas diversas vertentes: ensino, pesquisa e extensão. E os frutos dessas ações muitas vezes podem ser contemplados não apenas pela comunidade universitária, mas, por toda a sociedade.
Na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), recentemente, foi realizado o lançamento, pela Editora Universitária (EDUEPB), do primeiro módulo de um material didático de Anatomia Humana adaptado para surdos, intitulado: Anatomia dos ossos do crânio em Língua Brasileira de Sinais (Libras). O e-book conta com a autoria da professora de anatomia humana do curso de Ciências Biológicas da UEPB, Aline de Maman; da graduanda em Ciências Biológicas Thays Fernanda da Fonseca; e do intérprete de Libras da UEPB, Hérbert do Rêgo. O trabalho de criação de artes e vídeo grafismo foi realizado pelo coordenador de Comunicação da UEPB, Hipólito Lucena, bem como os jornalistas e desings da CODECOM, Julio César Gomes de Oliveira, Marcelo Davi Serafim e Mahatma Gandhi Vieira.
De acordo com a professora Aline de Maman, a ideia do livro surgiu quando a aluna surda, Thays Fernanda da Fonseca, ingressou no curso de Ciências Biológicas e a docente preocupou-se com a escassez de material, no Brasil e exterior, que utilizasse a língua de sinais para nomear as estruturas anatômicas estudadas no componente curricular de Anatomia Humana.
“A nomenclatura anatômica é internacional, ou seja, cada estrutura do corpo humano possui um único nome para todos os países e cada país traduz para seu idioma, e estes nomes trazem informações sobre as respectivas estruturas, facilitando não só a comunicação entre anatomistas e profissionais de saúde, mas, a memorização desses nomes. Para os discentes surdos que se comunicam através da Língua Brasileira de Sinais, tanto a memorização das estruturas anatômicas quanto a comunicação com seus colegas e professores, ficam comprometidas gerando condições desiguais de aprendizagem entre estudantes surdos e estudantes ouvintes”, explica a professora Aline.
Diante disso, como ponto de partida foram definidas quais estruturas anatômicas iriam compor o módulo 1, e o grupo pesquisou os sinais em Libras já existentes que nomeiam essas estruturas, constatando que a maioria delas ainda não possuía seu respectivo sinal o que demandaria a criação de sinais. Para a criação de cada sinal, foi necessária a participação da professora Aline de Maman (anatomista), Herbert do Rêgo (intérprete de Libras), Thays Fernanda da Fonseca (estudante e surda) e Ricardo Ferreira (professor de Libras surdo), que realizou a adequação dos sinais criados às normas técnicas de Libras. Também colaboraram ao longo do processo de criação do e-book a professora Alexa Alves de Moraes, que fez a adaptação para a língua inglesa, e uma banca de avaliação e validação dos sinais em Libras (grande parte dos membros surdos).
Para cada estrutura anatômica, a docente ministrava uma aula sobre a respectiva estrutura, assegurando que todo o grupo tivesse uma boa compreensão e, dessa forma, o sinal criado trouxesse informações conforme prega a nomenclatura anatômica internacional. Todos os participantes do grupo opinavam durante a criação do sinal e o intérprete foi sempre essencial para uma clara comunicação entre a professora anatomista e os surdos.
Cada sinal criado era filmado e, após a criação de todos os sinais e avaliação da banca composta por especialistas em Libras, os sinais foram filmados e editados na CODECOM pelo servidor Mahatma Vieira. Na etapa seguinte a professora Aline de Maman elaborou os textos referentes a cada estrutura anatômica e providenciou as fotografias para ilustração do material didático, cuja diagramação foi realizada pelo design Júlio César Gomes.
As fotografias utilizadas foram obtidas no Laboratório de Anatomia Humana do CCBS da UEPB pela professora Aline de Maman e pelo fotógrafo e professor João Walter de Souza da Silveira; e no Laboratório de Anatomia Humana da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo pelo professor José Antônio Thomazini, com auxílio da equipe de fotógrafos do Setor de Documentação Científica do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.
Segundo a professora Aline, os autores desejam que esse material didático de anatomia humana em Libras proporcione aos estudantes surdos uma maior segurança e autoestima, bem como condições mais igualitárias de aprendizagem facilitando a comunicação entre os surdos acerca das estruturas anatômicas do corpo humano, possibilitando uma redução do índice de evasão de alunos surdos matriculados em cursos de graduação em ciências biológicas e da saúde, incentivando o ingresso de novos alunos surdos no ambiente universitário e, consequentemente, melhor qualificação profissional e inclusão dos surdos em postos de trabalho mais valorizados.
O e-book pode ser acessado na página da EDUEPB. Na obra estão dispostas as estruturas anatômicas dos ossos do crânio e além do nome e texto sucinto, escritos em português e inglês, fotografias da estrutura anatômica e um link para assistir o vídeo disponibilizado no canal Rede UEPB no Youtube, com o sinal em Libras que nomeia a estrutura óssea. A equipe agora atua na produção do módulo 2, que abordará a coluna vertebral e caixa torácica. Segundo a professora Aline, a perspectiva é que seja construído um material didático adaptado para surdos que contemple todas as estruturas anatômicas estudadas em nível de graduação.
Fonte: Universidade Estadual da Paraíba