Ao contrário do que maioria pensa, aos deficientes é garantido direto de dirigir.
MATO GROSSO – O Detran está estimulando os surdos a fazerem a carteira de habilitação para carros e motos. Isso mesmo, os deficientes auditivos, como todos os cidadãos, têm o direito de dirigir assegurado em lei, desde que sejam maiores de idade e alfabetizados.
Esta semana, um workshop oferecido pelo órgão reuniu pouco mais de 80 surdos no Centro Estadual de Apoio ao Deficiente Auditivo (Ceada), uma espécie de escola de ensino regular, reforço e unidade psicossocial. O encontro denominado “Em Busca da Inclusão do Surdo no Trânsito” debateu sobre o direito e os meios de obter a carteira de habilitação como parte das atividades da campanha de combate à surdez.
Em Mato Grosso, apenas 105 deficientes auditivos estão cadastrados no Detran, portanto, aptos a dirigir. Muitos, diz o coordenador de Exames do Detran, Cândido Rosa Júnior, desconhecem o direito ou consideram burocrático demais o processo de habilitação e, por isso preferem permanecer na clandestinidade. Além de ajudar estimular aqueles que já dirigem a tirar a carteira, o Detran está divulgando o direito junto aos portadores dessa deficiência e seus familiares.
Conforme o coordenador de Exames, aos deficientes auditivos é permitida habilitação nas categorias A e B para carros (automóveis) e motos. A CNH para veículos de transporte de carga e de passageiros somente é liberada para o deficiente que faz uso de um aparelho especial que hoje custa mais de R$ 20 mil.
Rosa Júnior destaca que o Código de Trânsito estabelece que trânsito em condições seguras é um direito de todo cidadão e dever dos órgãos e instituições do Sistema Nacional. Deficiente auditivo desde a infância, Everaldo Aparecido de Oliveira, 40 anos, tem carteira há 10 anos. Ele diz que não depende de favores de parentes e amigos ou do passe-livre para deficientes para se locomover nas tarefas cotidianas, como levar a filha à escola, fazer compras e viajar com a família, o que faz se sentir um cidadão pleno. Mas, segundo ele, não foi fácil conquistar a CNH, um documento que considera fundamental em sua vida.
Reprovado no primeiro teste, Everaldo diz que treinou e estudou bastante a legislação de trânsito para o segundo exame, no qual foi aprovado. Rogério Belussi Miranda, 34 anos, é motorista habilitado há mais de 10 anos. Atuante na defesa do direito da pessoa com deficiência, ele já fez parte do conselho municipal dessa área e sabia desde cedo que tinha direito à carteira de habilitação. Também se orgulha de jamais ter se envolvido em acidente de trânsito.
Aos 15 anos, o estudante Renato Salvino Barbosa, aluno da Escola Municipal Padre Raimundo Pombo, já sonha em dirigir carro. Acostumado a consertar bicicleta, atividade que apreendeu por curiosidade, o adolescente sabe que ainda não tem idade para tirar a carteira e, por isso não pode aprender a dirigir, mas faz planos para seu futuro como motorista. A professora e interprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) Ivoneila Pedrosa considera Renato um bom aluno, consciente e bastante esforçado nos estudos.
Fonte: Diário de Cuiabá