Criado por professora da UFSCar, voluntários produzem vídeos em Libras com histórias infantis e explicações sobre a pandemia.
O projeto ‘Casa Libras’ foi criado em São Carlos (SP) com o objetivo de levar informação para crianças surdas durante a quarentena. A iniciativa disponibiliza online e gratuitamente vídeos na Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Idealizado pela coordenadora do curso de Tradução e Interpretação de Libras (Tilsp) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Vanessa Martins, o projeto visa informar sobre a Covid-19 e ser um canal de entretenimento.
Dificuldades percebidas
Através de uma pesquisa vinculada a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) sobre a educação bilíngue de surdos, Vanessa percebeu a dificuldade das escolas em produzir material didático na língua de sinais.
Outro grande desafio foi o aumento da necessidade de recreação devido ao isolamento. “As crianças não têm acesso a meios de entretenimento na TV aberta, quase nada tem Libras”, explicou.
Somado a esses fatores, o vice-coordenador do projeto, Guilherme Nichols, explica que muitos pais e mães, apesar de terem filhos surdos, não sabem a língua de sinais, o que também dificulta a interação familiar e o repasse de informações sobre a pandemia.
“Já é difícil para uma criança ouvinte estar em isolamento, então imagina o surdo que precisa ficar em quarentena e não tem essas explicações do tipo ‘porque eu estou lá?’. Ele já se sente excluído normalmente, agora ficando dentro de casa sem entender é uma exclusão da exclusão”, completou.
Ideia
A pesquisadora, então, decidiu criar o ‘Casa Libras’ para resolver essas questões. Vinculado a Pró-reitoria de Extensão (Proex), o projeto é organizado por ela, o vice-coordenador e mais 11 integrantes, entre eles técnicos do Tilsp, da UFSCar, alunos e ex-alunos.
“A gente pensou na possibilidade de mão dupla: auxiliar as escolas com materiais e também os pais que não conseguem se comunicar com os filhos em língua de sinais, usando algum modo de entretenimento”, comentou Nichols.
Segundo o contador Leandro do Nascimento, pai do João Pedro que é surdo, o projeto trouxe a eles uma oportunidade de conhecer histórias novas. “Depois eles vêm nos contar e explicar o que viram, traz uma boa proximidade entre a família”, comentou.
Produção colaborativa
Para a produção dos vídeos, os integrantes do ‘Casa Libras’ colaboram em todas as áreas. “A gente não estabelece, assim, uma coisa que cada um vai fazer. Vamos caminhando juntos”, disse o vice-coordenador.
Quem quiser participar, precisa encaminhar um e-mail para o casalibrasufscar@gmail.com com a história que deseja contar. Esta, passará por um processo de validação, edição e tradução para o português – para que pessoas ouvintes também possam entender.
“Crianças surdas que têm irmãos ouvintes poderão assistir junto, por exemplo, e ver que a língua de sinais é uma coisa legal. A gente também queria que os pais soubessem o que está sendo falado”, disse Vanessa.
Participação de surdos
Para Vanessa, a participação do professor Nichols, que é surdo, é fundamental para o sucesso do projeto. “É importante ter a perspectiva surda do trabalho. Eu sei de algumas necessidades, mas o Guilherme consegue aprimorar esse olhar”, explicou.
Além dele, a equipe convidou a comunidade externa surda para fazer parte. O estudante João Pedro Nascimento, de 10 anos, além de telespectador foi um dos voluntários. Ao assistir uma das histórias, pediu ao seu pai para participar.
“Eu fico bem feliz quando eu vejo as histórias, porque elas são muito legais, aprendi bastante coisa, pude conhecer muita história, é bem legal esse projeto”, contou.
Distribuição de materiais
Ao mesmo tempo que oferece entretenimento, a ideia do projeto é distribuir os materiais para as escolas, que estão retomando suas aulas a distância. Segundo Vanessa, algumas prefeituras também estão utilizando os conteúdos.
“Fomos solicitados a compartilhar o link e a disponibilizar o uso dessas mídias em algumas escolas municipais, para encaminhar ações e direcionar pedagogicamente as histórias nesse momento da pandemia”, comentou.
Para ela, os resultados têm sido satisfatórios e a ideia é dar prosseguimento ao projeto. “Mesmo não tendo o coronavírus, a gente sabe que falta esses materiais e que é importante. Então esse momento só intensificou, mas a gente pretende continuar”.
Fonte: G1