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Professora produz dicionário para eternizar língua de sinais criada por comunidade de surdos

Mais de mil exemplares do “Cena: dicionário visual da língua de sinais de várzea queimada” foram distribuídos para a comunidade e pesquisadores interessados no tema.3

Neste dia 26 de setembro é celebrado o Dia Nacional do Surdo, data dedicada à conscientização sobre a surdez e à valorização da cultura surda. Uma das maneiras que os surdos usam para se comunicar é a língua de sinais, mas em Várzea Queimada, zona rural de Jaicós, a 363 km de Teresina, os moradores desenvolveram uma língua de sinais própria, chamada Cena.

Pesquisas e teses foram desenvolvidas sobre a língua utilizada tanto por pessoas surdas quanto pelos ouvintes da região. A professora Bruna Rodrigues, da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), em parceria com pesquisadores de todo o país, encontrou uma nova forma de eternizar A Cena: a criação de um dicionário com todos os gestos utilizados pela comunidade.

O dicionário é fruto de um projeto chamado “Léxico e gramática da CENA: a língua dos surdos da Várzea Queimada”, criado pelo professor e pesquisador Dr. Anderson Almeida da Silva.

O dicionário foi lançado em dezembro de 2023. Mais de mil exemplares do “Cena: dicionário visual da língua de sinais de várzea queimada” foram distribuídos para a comunidade e pesquisadores interessados no tema.

Ao g1, a professora e pesquisadora contou que entrou no projeto após iniciar sua tese sobre as narrativas contadas em Cena.

“Levantamentos apontam que existem em todo mundo cerca de 6 mil línguas, e é possível que até a metade do presente século boa parte dessas línguas sejam extintas, antes mesmo de serem descritas. Daí a relevância de descrever, registrar e catalogar a A Cena, para preservá-la e dar possibilidade das futuras gerações conhecerem a língua. Pois quando morre uma língua, morre também a memória de um povo.”, explicou Bruna.

Ainda segundo a pesquisadora, após cerca de 5 anos de estudos, foram registradas no dicionário quase 300 expressões utilizadas pela comunidade de Várzea Queimada.

“O dicionário impactou muito a comunidade. Todos eles se envolveram na produção e lançamento. Esse projeto mudou muito a minha visão como pesquisadora, já que geralmente temos uma visão muito ‘colonizadora’ sobre as línguas, queremos sempre aplicar técnicas e estudar outros lugares. Com a Cena, aprendi que temos que investigar os fenômenos locais e todos os seus detalhes”, completou Bruna Rodrigues.

A edição conta com traduções em libras, português e inglês.

A Cena

Comunidade do Piauí cria linguagens de sinais para conviver com alto índice de surdez

Várzea Queimada, distrito de Jaicós, no sertão do Piauí, possui 900 moradores e tem um dos piores índices de desenvolvimento humano do país. Mas a comunidade também chama a atenção por outro motivo: a quantidade de pessoas surdas que nascem lá. Até agora, são 34. E, para se comunicar, eles desenvolveram uma língua própria: A Cena.

Tanto os surdos quanto os não surdos se comunicam através de gestos, que indicam ações do dia a dia, como ir à igreja ou avisar que está fazendo calor.

A diferença é que todos esses sinais foram criados por eles. Não por acaso, essa nova língua foi batizada de Cena.

Silvana Lusia Barbosa tem seis filhos. Três deles nasceram surdos. Como não tiveram acesso ao aprendizado de Libras, a Língua Brasileira de Sinais, o jeito foi improvisar.

“Foi difícil, mas consegui [educá-los], porque é uma regra que eles vão aprendendo, aprendendo até adaptar. Ainda hoje tem dificuldade, claro, porque os ouvintes também têm… mas deu para entender, eles já sabem comunicar todas as Cenas”, conta a dona de casa.

Sem saber, a família ajudou a estruturar o que os pesquisadores chamam de língua emergente. O fenômeno despertou o interesse de um doutor em linguística pelo Massachusetts Institute of Technology:

“Acho até um nome bonito, que dá essa dimensão teatral. É uma língua nova, completamente inédita e completamente diferente de Libras”, explica Andrew Nevins.

Há cinco anos, especialistas da área de linguística da Universidade Federal do Delta do Parnaíba pesquisam as origens e o desenvolvimento da língua de sinais no povoado.

Mas o que explica tantos surdos nascerem num só lugar? A resposta está na genética. A doutora Karina Mandelbaun estudou profundamente a localidade, onde o casamento entre primos era bem comum.

“A perda de audição é muito heterogênea, mas a forma mais comum é a herança recessiva. É o seguinte: nosso material genético está sempre aos pares. Por quê? Porque vem uma cópia do nosso pai e uma cópia da nossa mãe. E esse material genético contém ‘instruções’ para fazer todo o nosso corpo, desde a cor do nosso cabelo, da nossa altura, e também ele tem esses ‘defeitinhos’ que podem levar a alguma doença”, explica.

Fonte: G1

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