Janine Farias se formou em pedagogia na Uneb em setembro deste ano. Durante o curso, ela usou língua de sinais tátil e braile para se comunicar com professores e colegas.
Após oito anos de estudo e obstáculos vencidos, a baiana Janine Farias, de 30 anos, se formou em pedagogia na cidade de Barreiras, no oeste da Bahia, durante o mês de setembro. De acordo com a Universidade Estadual da Bahia (Uneb), ela é a primeira pessoa surdocega a receber um diploma na instituição.
“Receber o diploma foi uma vitória para mim, uma felicidade muito grande. É uma sensação que eu consegui, que valeu a pena”, comemorou.
Janine ingressou no curso em 2015, através das vagas de ampla concorrência, ou seja, vagas que não são reservadas para candidatos que se enquadrem na Lei de Cotas ou com deficiência.
A comunicação na sala de aula era feita de duas formas: ela fazia a escrita e leitura dos textos escritos em braile, enquanto a interação com professores e colegas era mediada por intérpretes, que se comunicavam com a estudante através da língua de sinais tátil – a língua de sinais feita com toque.
De acordo com a recém-formada, a escolha do curso foi feita baseada no desejo de promover acessibilidade para outras pessoas surdocegas.
Após a formatura, o sonho não termina, só fica maior: Janine pretende fazer mestrado e prestar concurso para professora.
“Quero fazer mestrado e vou aproveitar os editais para melhorar minha profissão como professora. Também vou estudar para concursos, para trabalhar como professora brailista. Quero proporcionar acessibilidade”, explicou.
Inspiração que vem de casa
A maior inspiração para Janine entrar no curso de pedagogia foi a mãe, Sandra Farias. Quando Janine era pequena, pouco se falava sobre didáticas de aprendizado para pessoas surdocegas. Devido a isso, para que a filha tivesse a oportunidade de aprender, Sandra buscou se especializar no assunto.
“Me tornei docente da área justamente por causa de Janine. Tive que me tornar professora para dar condições para ela aprender”, explicou.
Sandra passou a trabalhar com a formação e sensibilização de profissionais para que eles entendessem como ensinar os alunos cegos e surdos. Quando Janine entrou na faculdade, ela também desempenhou um papel importante, cobrando da instituição as contratações dos profissionais de apoio. A jovem acompanhou toda a luta.
“Sonhei em seguir os passos de minha mãe”, disse Janine.
Para Sandra, é emocionalmente ver a filha receber o diploma de pedagoga. Apesar disso, ela sabe que esse é só mais um degrau de um longo caminho que será percorrido pela jovem.
“Eu me sinto muito orgulhosa pela minha filha, mas o sonho não termina aqui. Torço para que ela possa ser aceita no mercado de trabalho, para que o mercado dê oportunidades para ela mostrar o potencial que tem”, afirmou.
Fonte: G1