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Provavelmente, você já ouviu falar na Língua Brasileira de Sinais (Libras) ou já deve ter visto algum intérprete dela. Mas você sabe se comunicar por meio de Libras? Mesmo tendo sido reconhecida oficialmente em 2002, a Língua Brasileira de Sinais ainda não é utilizada pela maioria da população.

Isso se dá, em partes, porque, historicamente, associamos comunicação à escrita gráfica. Ou seja, a principal forma de comunicação das pessoas surdas é pouco utilizada e isso representa uma barreira na interlocução dessas pessoas com o resto do mundo. Pensando em promover formas de inclusão das pessoas com deficiência auditiva no mundo letrado, a professora Adriana Lessa-de-Oliveira, do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários (Dell), da Uesb, desenvolveu o Sistema de Escrita para Libras, chamado Escrita SEL.

A Escrita SEL consiste, basicamente, em transformar os sinais gestuais em sinais gráficos. Se comparado, seria um processo semelhante à representação dos fonemas (sons) em letras. Para ter acesso a este texto, por exemplo, ou para ler notícias e livros, escrever mensagens e tantas outras atividades, você, certamente, é uma pessoa alfabetizada, lê e escreve em português e isso é muito natural, porque crescemos escutando as palavras e conhecemos os fonemas.

A partir da constatação dessa dificuldade das pessoas surdas com a aquisição da escrita de línguas orais, como o Português, a professora Adriana resolveu se dedicar à criação da Escrita SEL. Segundo ela, “o problema das pessoas surdas para adquirir um sistema de escrita como o do Português decorre, principalmente, de três fatores: o tipo de escrita da língua oral, que é fonêmico-alfabético, ou seja, está baseado nos sons da língua; a natureza do processo de aquisição da escrita, que se baseia no caráter sonoro do sistema alfabético; e o fato de a Libras (primeira língua dos surdos brasileiros) ser uma língua ágrafa (sem escrita em uso)”.

Após análise, a docente descobriu que “os sinais possuem uma estrutura articulatória hierárquica” e, a partir disso, propôs um modelo fonológico para línguas de sinais, o Modelo MLMov, que é “baseado no pressuposto de que o sinal apresenta uma estrutura articulatória composta em quatro níveis hierárquicos”, explica. Segundo Lessa-de-Oliveira, esses níveis são:  traços, macrossegmentos, unidades ML Mov e o item lexical. “A SEL representa, utilizando caracteres (letras) e diacríticos, os segmentos articulatórios da Libras, isto é, os segmentos do 1º e 2º níveis da estrutura fonológica MLMov”, pontua.

Contribuição científica mundial – Apesar de desenvolvido, especialmente, para a Libras, o Sistema pode ser utilizado, sem adaptações, para escrever outras línguas de sinais que utilizem as mesmas configurações de mão e serve, também, para grafar línguas de sinais que apresentem configurações de mão diferentes das configurações da Libras, como as línguas de sinais de países árabes, por exemplo. No caso dessas línguas, será necessária uma adaptação simples de uma pequena parte dos caracteres.

No momento, a Escrita SEL tem sido utilizada pelos pesquisadores que fazem parte do Grupo de Pesquisa das Estruturas Gramaticais e Aquisição da Linguagem. O Sistema também é bastante empregado em transcrições de dados em Libras e, por isso, já foi citado em diversas dissertações e teses por todo o país, além de ser objeto de estudo de um trabalho desenvolvido na Universidade do Minho, em Portugal. A SEL tem sido ensinada por meio de cursos de extensão e minicursos oferecidos em eventos acadêmicos, com o intuito de capacitar pessoas surdas e profissionais da área para o ensino da escrita.

Inclusão no mundo letrado – Os trabalhos para o desenvolvimento da Escrita SEL levaram mais de uma década de investigação. A pesquisa teve início em 2009, com a elaboração do projeto de pesquisa “Inclusão de pessoas surdas no mundo letrado: proposta de criação de um sistema de escrita para Libras e de métodos de alfabetização em Libras e em Português para pessoas surdas”. A partir daí, várias versões do sistema SEL foram aperfeiçoadas e hoje está pronto para uso, inclusive com a criação de um aplicativo com editor de texto, em fase de finalização, que ampliará a acessibilidade das pessoas ao Sistema.

Iniciativas como o desenvolvimento do Sistema de Escrita de Libras é um grande passo para a inclusão de pessoas com deficiência auditiva nas mais variadas atividades da vida social e abre portas para que essas pessoas tenham acesso a um vasto conjunto de conhecimento que está disponível de forma escrita. A professora Adriana defende que “se as crianças surdas puderem estudar com livros didáticos escritos na língua de sinais que elas dominam, a aprendizagem das diversas matérias será algo sem sofrimento para elas. Elas poderão ter acesso à literatura, ao conhecimento científico etc.”.

Mais informações sobre a Escrita SEL, acesse o blog do Sistema.

Fonte: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

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