Jovem de 22 anos foi matriculado no curso de química, mas instituição federal não dispõe de profissional para auxiliá-lo. IFSP diz que busca solução com o Ministério da Educação (MEC).
Pais de um estudante de 22 anos recorreram ao Ministério Público (MP) para que um intérprete de Libras (língua brasileira de sinais) seja contratado para acompanhá-lo durante as aulas no Instituto Federal de São Paulo (IFSP), em Sertãozinho (SP).
Calouro no curso de química, Leonardo da Silva Miguel tem frequentado as aulas, mas não consegue acompanhar o conteúdo porque a instituição não dispõe do profissional.
A mãe dele, Raquel Mara da Silva, diz que o IFSP foi comunicado sobre as deficiências do filho desde a matrícula, mas que nenhuma providência foi tomada.
Em nota, o IFSP informou que busca uma solução junto com o Ministério da Educação (MEC) para contratar um intérprete, e que o problema deve ser resolvido o mais breve possível.
Ainda segundo o IFSP, o decreto presidencial n° 10.185, de 20 de dezembro de 2019, extinguiu o referido cargo assim como vedou a abertura de concurso público no âmbito da administração pública federal.
O G1 aguarda posicionamento do MEC sobre o assunto. O Ministério Público de São Paulo não se manifestou.
Dedicação
Leonardo nasceu surdo-mudo depois que a mãe teve complicações na gestação causadas por uma rubéola. Apesar da deficiência, o jovem sempre se mostrou interessado nos estudos e contou com a ajuda de uma tradutora e intérprete durante o ensino público regular.
Em 2019, ele decidiu cursar química, passou a se dedicar ainda mais e obteve uma boa nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Inscrito no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), conseguiu uma vaga no IFSP.
Ao fazer a matrícula, a mãe relatou as necessidades para que o filho tivesse condições de estudar, mas o ano letivo teve início sem que as especificações fossem atendidas.
Desde o início do mês, Leonardo frequenta a unidade, mas não consegue acompanhar o conteúdo. Caso atinja o limite de 10 faltas, ele pode perder a vaga.
“Eu não consigo aprender porque o professor explica, fala a aula toda, e eu não consigo entender o que o professor fala. Sem a tradutora, eu não consigo”, diz o jovem, com a ajuda da professora e intérprete Adriana Marchi.
Frustração
A professora, que acompanhou o jovem no último ano da escola regular, diz que ele batalhou pelo sonho de cursar uma faculdade, mas que está sendo impedido de realizá-lo.
“Ele passou no vestibular porque ele teve força de vontade, não por inclusão. Se a faculdade se dispõe a pegar um aluno deficiente, ela tem que estar apta a fornecer tudo o que a pessoa com deficiência precisa”, diz.
A mãe afirma que o filho se sente frustrado e que ele se mostra impaciente com a falta de acessibilidade.
“Ontem ele estava na aula e ficou muito nervoso porque o professor estava interagindo com os alunos e ele não estava entendendo nada. Eu perguntei o que ele fez e ele disse que pediu ao professor para sair, foi ao banheiro e chorou. Eu pedi a ele calma porque a gente está tentando conseguir um intérprete”, afirma Raquel.
Pai do estudante, o encarregado de obras Eduardo Veterano Miguel tem esperança de que o Ministério Público possa intervir a favor do filho.
“Ele traçou esse objetivo e eu tenho certeza que ele vai conseguir. Eu tenho fé que ele vai conseguir e a gente vai se esforçar para isso.”
Fonte: G1