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Com apoio da amiga fluente em Libras, Camila da Silva Barbosa recebeu o pequeno Marlon e pode compreender tudo que os médicos diziam durante o nascimento do bebê.

A jovem Camila Stefani da Silva Barbosa, de 19 anos, estava com receio de como seria o parto do primeiro filho em Taquaritinga (SP) por conta da surdez. A importância de compreender todos os detalhes da chegada de Marlon ao mundo levaram a mamãe a uma ideia que a deixou mais segura: convidar uma amiga intérprete de Libras (língua brasileira de sinais) para acompanhar o nascimento.

Queria que meu filho nascesse e queria conseguir entender todos os detalhes do que estava acontecendo”, diz a jovem. “Um sentimento muito forte dentro do meu coração se expandiu. Chorei e foi maravilhoso.”

Camila (à esquerda) e Leidjane são amigas há anos

Surda desde os três anos, Camila cresceu enfrentando dificuldades para realizar tarefas que, para os outros, são simples, como a ida ao supermercado ou ao banco. Ao descobrir que estava grávida, no entanto, a jovem decidiu que faria de tudo para ter a mesma experiência que qualquer outra gestante.

Camila quis entender cada detalhe, por menor que fosse, dos ultrassons e dos outros exames de pré-natal de Marlon. Sempre acompanhada nas consultas por uma prima que entende a língua de sinais, a jovem já tinha planos de levar um intérprete ao hospital para acompanhar o parto.

Parto surpresa
O problema é que Marlon pegou a família toda de surpresa e decidiu vir ao mundo um mês antes do previsto. Ele nasceu no último domingo (16), por volta das 10h, poucas horas depois de Camila ter começado a sentir as dores que indicaram que o sonho dela estava prestes a se concretizar.

Leidjane (de camiseta branca) e a mamãe Camila (de jaqueta preta) após o parto

“Ele se mexia muito, eu sentia muitas dores e não conseguia dormir. Com essas dores, eu senti que ele ia nascer”, relembra. “Era uma ansiedade. Eu queria de verdade que ele chegasse rápido.”

Ao chegar à Santa Casa, no entanto, Camila não conseguia entender o que os médicos e os enfermeiros diziam. A equipe não sabia se comunicar por libras e a jovem não conseguia fazer leitura labial, porque todos usavam máscara de proteção no rosto.

“Eu estava usando muito gesto, tentando entender o que estava acontecendo, a medicação que estava sendo passada”, diz. “Era muito ruim para mim. Eles falavam algumas coisas que eu não entendia, e eu queria entender.”

A preocupação era grande porque, no meio da gestação, Camila precisou ficar internada por dias por conta de um sangramento que provocava dores fortes. “Fiquei um pouco preocupada, porque não sabia como iria funcionar. Era uma oscilação entre medo e ansiedade”, relembra.

A intérprete Leidjane dos Santos, que já tinha planos de acompanhar o parto, foi avisada de última hora e chegou ao hospital cerca de duas horas antes de Marlon nascer, a tempo de ajudar Camila a compreender tudo que estava acontecendo e tranquilizá-la.

Camila Stefani da Silva Barbosa, o filho e o marido

Leidjane faz parte da Associação de Deficientes Físicos e Surdos (Adefis) de Taquaritinga. Ela já está acostumada ao trabalho de interpretação, mas, desta vez, tudo foi diferente. Mesmo com o peso da responsabilidade, a jovem conseguiu cumprir a tarefa e se emocionou,

“Foi a primeira vez que vi o nascimento de uma criança. Fiquei toda arrepiada. A Camila é muito especial para gente. Ela sempre lutou pela inclusão social e ver o nascimento do Marlon foi um marco na minha vida. Quero acompanhar esse meninão crescer”, diz.

A nova mamãe diz que as lembranças do parto e do momento em que ela pegou Marlon pela primeira vez no colo ficarão para sempre marcadas na memória. Camila já se preocupa com a educação do bebê e espera que, em um futuro próximo, o mundo seja mais acessível para os surdos.

“Hoje eu estou completa com meu filho e ele é maravilhoso. Eu não sei nem explicar toda esse emoção e esse sentimento. É algo muito maravilhoso”, diz.

Fonte: G1

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