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Com o propósito de fortalecer o reconhecimento e a preservação das línguas de sinais indígenas, uma história em quadrinhos produzida na Universidade Federal do Paraná concorre ao 34º Troféu HQMIX, considerado o Oscar dos quadrinhos. A HQ foi desenvolvida em formato plurilíngue, sinalizada também na Língua Brasileira de Sinais (Libras), e retrata a língua indígena de sinais utilizada pelos surdos da etnia Terena.

O material inédito é resultado do trabalho de conclusão de curso de licenciatura em Letras Libras da Universidade Federal do Paraná de Ivan de Souza. A história disputa o prêmio na categoria “Produção para outras linguagens”.

A pesquisa de Ivan começou em 2017, quando o estudante estudava a história dos surdos no Paraná, na iniciação científica. Todo o processo teve acompanhamento de pesquisadoras que já desenvolviam atividades com os terena surdos, usuários da língua terena de sinais. A comunidade indígena também teve participação ativa no desenvolvimento e depois, na validação da obra junto ao seu povo.

“Me sinto muito feliz por conseguir atingir, mais uma vez, um dos objetivos ao criar esse material multilíngue que era levar ao máximo de pessoas possível o conhecimento sobre a existência da diversidade linguística e cultural que temos presente em nosso país”, conta Souza. “Esse trabalho foi feito a muitas mãos e a indicação é o resultado dessa união de pessoas que de alguma forma contribuíram para a concretização desse projeto”.

A história integra o projeto da UFPR “HQ’s sinalizadas”, que trabalha com temas transversais dos artefatos da cultura surdahistória, língua, cultura, saúde. A proposta é criar, aplicar e analisar histórias em quadrinhos sinalizadas como uso de sequências didáticas bilíngues para o ensino de surdos.

A iniciativa vem ganhando destaque em várias áreas de conhecimento e já recebeu duas indicações ao prêmio. “Estamos bem contentes com os resultados e com a elaboração de mais histórias em quadrinhos destinadas ao público surdo, que usa língua de sinais no Brasil. Ter mais uma HQ recebendo a indicação ao Oscar dos quadrinhos é um reconhecimento muito importante, principalmente, por saber que estamos no caminho certo”, conclui a coordenadora do projeto e orientadora do trabalho, professora Kelly Priscilla Lóddo Cezar.

O resultado do prêmio deverá ser divulgado no final do mês de novembro. Confira a lista completa de indicações ao prêmio neste link.

Em 2020, outra HQ do projeto também foi indicada ao prêmio. Confira a matéria completa aqui.

História

Inspirada na história real do povo terena, a narrativa apresenta a comunidade em uma época em que ela ainda vivia nas Antilhas e era designada pelo nome Aruák. A pajé Káxe, procurada por uma mulher em trabalho de parto, ajuda no nascimento do pequeno Ilhakuokovo. Ao pedir a benção dos ancestrais para o recém-nascido, em um ritual religioso tradicional, o espírito de Hopuxokenatí se aproxima e revela, no céu, imagens do futuro daquele povo.

A partir daí, a obra ilustra um pouco da trajetória desses indígenas e da sua instalação em território brasileiro. Buscando caminhos que levasse aos Andes, em meados do século XVI, os espanhóis estabeleceram relações com os terena, à época chamados de Guaná, na região do Chaco paraguaio. A chegada dos brancos acarretou muitas mudanças nas vidas dos indígenas, que procuraram, durante certo período, locais onde pudessem exercer seu modo de vida sem a influência da colonização.

Assim esse povo chegou ao Brasil, no século XVIII, e se instalou na região do Mato Grosso do Sul. Mesmo em outras terras, os conflitos trazidos pela colonização ainda eram um problema. A Guerra do Paraguai envolveu os terena, que foram forçados a participar para garantir seus territórios e, no conflito, perderam muitos membros de sua comunidade. Após a guerra, questões territoriais continuaram causando embates. Nesse período, os terena se viram obrigados a trabalhar nas fazendas da região, situação que ocasionou a servidão dos indígenas.

Algumas famílias dessa população indígena se mantiveram às margens das fazendas, ocupando pequenos núcleos familiares irredutíveis à colonização. Foram essas ocupações que, regularizadas no início de século XX, formaram as Reservas Indígenas de Cachoeirinha e Taunay/ Ipegue (com informações da Comissão Pró-índio de São Paulo).

Fonte: Bem Paraná

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