A história de dois atletas surdos que se encontram a caminho da Surdolimpíada e descobrem que vão disputar a mesma modalidade é a narrativa contada pela recém-lançada história em quadrinhos bilíngue do projeto HQ’s sinalizadas, publicada na última quarta-feira (4).
Produzida por Addyson Celestino da Silva Campos, acadêmico em Educação Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e orientada pelos professores Kelly Priscilla Lóddo Cezar e Clovis Batista de Souza, ambos do curso de Letras Libras, a obra apresenta a história de três formas: Libras (Língua Brasileira de Sinais), Língua Portuguesa e desenho, permitindo que pessoas surdas e ouvintes tenham acesso.
O autor conta que a ideia surgiu quando cursou a disciplina de Libras, ministrada por Kelly e Souza. Apesar de não ser surdo, ele se interessou pelo assunto a partir de uma situação que vivenciou na igreja que frequenta em que, após uma palestra incentivando a inclusão social, o público se dividiu: surdos para um lado, ouvintes para outro. “Naquele momento eu me deparei com uma situação diferente da que tinha sido pregada. No mesmo período, abriram vagas para a disciplina de Libras na Educação Física e vi nisso uma oportunidade de me aproximar dessa comunidade”, relembra.
A história
Júlia e Júlio são personagens inspirados em indivíduos reais da comunidade. Os dois se encontram a caminho da surdolimpíada – que será realizada em Caxias do Sul, no Brasil, em 2021 – e descobrem que vão disputar a mesma modalidade esportiva, a orientação, mas em áreas diferentes. No esporte, o atleta deve percorrer lugares desconhecidos no solo, em montanhas, em rios, entre outros terrenos, no menor tempo que conseguir. Para isso, ele conta com a ajuda de um mapa e de uma bússola. Júlia disputa na área da cidade, enquanto Júlio corre pela mata.
De acordo com o revisor da obra e professor do curso Letras Libras, Danilo da Silva Knapik, essa história em quadrinhos bilíngue aborda a importância da igualdade e da inclusão social em questões esportivas. “Apresenta também o respeito à cultura e à identidade surda e as diferenças e adequações necessárias para garantir a acessibilidade linguística e viabilizar a participação dos surdos em diferentes lugares, mostrando sempre que eles são capazes”.
Para conferir a história na íntegra, clique aqui.
Inclusão
No futuro, o autor pretende trabalhar a inclusão da comunidade surda no esporte. “Precisamos fazer um trabalho social efetivo, unindo ouvintes com pessoas surdas, incluindo a comunidade surda em todas as áreas da sociedade e quebrando esse paradigma de segregação em que surdos ficam de um lado e ouvintes de outro”, destaca Campos.
“Aceitar, valorizar, reconhecer e respeitar os discursos inclusivos têm contribuído para que as línguas de sinais não se tornem restritas à comunidade surda e a seus professores, mas alcancem também ouvintes que desejem aprendê-las e conhecê-las como qualquer outra língua”, enfatiza a professora Kelly que coordena o projeto de pesquisa institucional vinculado ao curso de licenciatura em Letras Libras e ao grupo de pesquisa “Formação de Professores em Línguas Estrangeiras”, que promove debates com o intuito de fomentar reflexões acerca da elaboração de materiais bilíngues e plurilíngues para surdos a fim de promover a acessibilidade linguística.
A língua indígena terena sinalizada será o foco da próxima história em quadrinhos produzida pelo projeto, atendendo ao objetivo de divulgar, registrar e valorizar as línguas de minorias como patrimônio histórico e cultural da humanidade.
HQ’s sinalizadas
Todas as HQ’s sinalizadas produzidas pelo grupo apresentam vídeos sinalizados, desenhos/ilustrações e escrita do português. “Essas linguagens podem ser utilizadas, especialmente, quando a proposta destina-se a contemplar os temas transversais como ética, orientação sexual, meio ambiente, saúde, pluralidade cultural, trabalho e consumo, congregando professores e pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento”, sugere Kelly, observando que pesquisas normalmente priorizam a aplicação da língua de sinais no contexto do ensino e da educação e que, por isso, é tão relevante abordá-las em outras esferas como o projeto já fez, contemplando história, psicologia, saúde mental e esporte.
Fonte: Universidade Federal do Paraná