Na infância em Planaltina (GO), Rafael começou a desenhar copiando personagens de gibis. Hoje, seus desenhos dão vida aos muros do Distrito Federal e de várias outras cidades no Brasil e no exterior.
Seu nome artístico, Odrus, é a inversão da palavra “surdo”, em referência à deficiência com a qual convive desde o nascimento. Na juventude, sua experiência foi a mesma de muitos jovens negros de periferia: era chamado de bandido.
A Ecoa conta — em libras, traduzido pela intérprete Nzambi Brito — que a arte o salvou. “A vida era muito difícil, mas a arte traz mudança. O grafite me ajudou a me levantar, a trabalhar, a ter um salário, a viajar, expandir minha cabeça e meus horizontes”.
Ao levar sua vivência e das pessoas que conhece para as obras, Odrus retrata muitas figuras negras. Para ele, colocá-las em destaque é uma forma de mostrar sua importância, confrontando a discriminação.
Além dos grafites, normalmente encomendados por comércios e prefeituras, ele já ministrou diversas oficinas para crianças e jovens no Brasil e em outros países, como a França. Essas atividades foram interrompidas pela pandemia de covid-19, mas ele torce pela retomada: quer muito voltar a ensinar sua arte nas comunidades.
Fico muito emocionado, muito feliz fazendo grafite. Sei que as pessoas se sentem bem quando olham pra arte, ficam emocionados como eu quando estou grafitando. É muito importante que as cidades tenham essas artes. A favela fica muito apagada quando não tem arte.
Seu desejo é ensinar grafite nas periferias de todo o Brasil, com foco especial em crianças surdas e ouvintes e egressos do sistema prisional. A ideia é que possam mudar de vida através da arte, como aconteceu com ele. “É muito importante fazer esse levante”, diz.
Rumo a SP
Odrus cita como referência os trabalhos dos grafiteiros paulistanos Os Gêmeos e Kobra. Em 2022, planeja se mudar para São Paulo, onde acredita haver mais oportunidades e acessibilidade.
“Já estou há 20 anos grafitando aqui, no Distrito Federal, e é muito difícil, porque falta acessibilidade. Quero mudar para São Paulo para aprender, crescer e expandir minha arte”, diz. “Tenho vontade de organizar oficinas nas periferias de SP pras pessoas surdas. É muito importante levar isso porque o surdo não conhece a arte, só fica em casa e isso é muito triste. É necessário que as pessoas surdas conheçam a arte e vejam que pessoas surdas também fazem arte. Elas têm o direito de aprender sobre tudo isso”.
Com muitos planos e projetos, ele dá um recado sobre a autonomia das pessoas com deficiência: “Estou longe de estar ‘preso’. Sou uma pessoa surda e estou ativo”.
Fonte: ECOA