Patrícia Hipólito, 48 anos, deixou reunião do último dia 1º por não conseguir participar; Secretaria de Saúde informa que dois intérpretes de Libras estarão disponíveis a partir do próximo encontro, em 22 de julho.
Primeira surda eleita para o Conselho Municipal de Saúde de Campinas (SP), Patrícia Hipólito de Alexandria descobriu, aos 48 anos, que teria muitas barreiras a superar antes de poder atuar e buscar, por meio do posto, melhorias para a comunidade. Depois de algumas dificuldades contornadas “em cima da hora”, deparou-se, no último dia 1º, com uma reunião virtual sem intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais), o que deveria ser garantido pela prefeitura. A falta de acessibilidade a deixou “revoltada”, e o encontro foi cancelado.
“Estou com muita dificuldade de participar das reuniões por falta de intérprete. Das outras vezes a dificuldade era porque só sabíamos se ia ter em cima da hora, mas na última reunião não teve mesmo. É dever da prefeitura garantir intérprete. Me sindo excluída. Chorei, estou revoltada, decepcionada”.
Colega de Patrícia no Conselho, Núbia Garcia Vianna ressalta que a Secretaria de Saúde é responsável por prover toda a estrutura e condições necessárias para funcionamento do colegiado que, por lei, tem como funções fiscalizadoras e consultivas, e exerce o acompanhamento, controle e avaliação da Política Municipal de Saúde.
Segundo Núbia, que exerce o segundo mandato no Conselho, assim que Patrícia foi eleita, a primeira providência do colegiado foi comunicar a pasta sobre o fato e a necessidade dos intérpretes.
Presidente do Conselho, Nayara Oliveira defendeu, em vídeo, o direito a participação de Patrícia. “Estamos indignados com o desrespeito ao direito humano. Nesse sentido, toda a população está sendo desrespeitada.”
Questionada sobre o problema, a Secretaria de Saúde não detalhou o motivo para a falta de intérprete na reunião anterior, mas garantiu que a situação foi resolvida.
“A Secretaria de Saúde informa que a próxima reunião do Conselho Municipal de Saúde, em 22 de julho, contará com a participação de dois intérpretes de libras”.
A importância dos dois intérpretes ocorre justamente pela necessidade de o profissional revezar a função durante o período das reuniões. Em um dos encontros virtuais do Conselho, em junho, apenas um intérprete de Libras participou.
Nasceu surda
Patrícia, que nasceu surda, é mãe de dois filhos ouvintes, de 27 e 24 anos, possui graduação e pós-graduação em Letras/Libras e atua como coordenadora de Libras de Associação dos Surdos de Campinas (Assucamp).
Segundo ela, a ideia de se candidatar ao Conselho de Saúde partiu da sugestão de uma colega, e ela viu a oportunidade de representar esse segmento da sociedade.
“Espero colaborar para que a comunidade surda tenha uma saúde de mais qualidade. Precisamos de atendimentos em Libras, de mais intérpretes disponíveis para nos acompanhar nos atendimentos. O ideal seria que todos os médicos e profissionais da saúde aprendessem Libras, mas isso tem que vir lá da faculdade e a prefeitura teria que continuar capacitando esses profissionais. Há situações que não se comunicar em Libras pode significar a vida desse paciente surdo”, destaca.
Ainda segundo Patrícia, a acessibilidade de forma geral, para todas as pessoas com deficiência, precisa ser mais debatida e ampliada em todos os serviços, principalmente os de saúde.
Em Campinas, a rede pública de saúde possui, na PUC e na Apascamp, atendimento específico para pacientes com deficiência auditiva (tratamento), e o foco de atuação, de acordo com a prefeitura, e dar autonomia para os pacientes.
Fonte: G1