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Caso ocorreu em Feira de Santana, cidade que fica a cerca de 100 km de Salvador. Veja o relato de Cailan Barros.

Um jovem com deficiência auditiva, morador de Feira de Santana, cidade que fica a cerca de 100 km de Salvador, relata ter sido prejudicado na prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado em janeiro deste ano.

Em entrevista à TV Subaé, veiculada nesta quinta-feira (20), Cailan Barros disse que a intérprete de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) não explicou corretamente o tema da redação, e ele foi eliminado do processo por fuga ao tema.

A entrevista concedida por ele foi feita com a ajuda de uma intérprete. O jovem contou que se preparou por dois anos para prestar o vestibular e tentar vaga para os cursos de Administração ou Assistente Social.

“Eu vim aqui [na escola] todos os sábados para estudar. Passava horas, todas as semanas, me preparando para o Enem”, falou.

Ele lembra que o primeiro obstáculo para fazer o Enem surgiu no momento da inscrição. De acordo com o estudante, a opção da prova em vídeo, modalidade voltada para candidatos com deficiência auditiva, não estava disponível. A alternativa foi contar com ajuda de uma intérprete, que faz parte da equipe de aplicação da prova.

Entretanto, segundo o candidato, a comunicação entre ele e a intérprete durante a aplicação das avaliações não foi positiva. “As intérpretes de LIBRAS não eram preparadas. Elas tinham dificuldade e isso me deixou muito angustiado. Eu perguntava, ela tinha dificuldade para responder, foi um sofrimento”.

Segundo Cailan, até mesmo o tema da redação teria sido traduzido de forma equivocada, o que provocou a eliminação dele do exame.

“Eu perguntei à uma intérprete, e ela disse: ‘você é surdo, tem muita dificuldade na redação’. Ficaram as duas conversando, dialogando, e não me passaram a temática. A outra disse: ‘Você sabe aí, sou intérprete, não posso falar’. Estou muito triste com essa situação, sou surdo, mas sou capaz. Faltou ter passado para mim [o tema]”, conta.

Ana Alves, professora que acompanhou o estudante na preparação para o Enem, garantiu que o aluno aprimorou as técnicas de redação e estava preparado para a prova. Segundo ela, o caso foi encaminhado para o Ministério Público na Bahia (MP-BA) no dia 12 de abril, por meio do site do órgão. Porém, a denúncia foi indeferida pelo MP-BA, porque não houve solicitação coletiva.

“Registramos tudo que aconteceu e há uma semana e meia recebemos a informação de que a solicitação seria indeferida, porque não tinha nada que fizesse com que a verificação da intérprete fosse sólida. Recebemos a orientação do advogado e escolhemos expor a situação. Existem outras situações em que os surdos são prejudicados”, disse a professora.

Apesar disso, Cailan conta que não vai desistir de entrar em um dos cursos pretendidos.

“Todos nós somos iguais. Acredito que no futuro isso será diferente. Falta acessibilidade e eu luto muito contra isso”, desabafou Cailan, por meio da intérprete.
Segundo a Defensoria Pública da União na Bahia (DPU-BA), como caso é de esfera federal, situações como a relatada por Cailan devem ser registradas no órgão, o que não ocorreu até o momento.

Confira o vídeo da reportagem, clique aqui.

Fonte: G1

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