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A produção de histórias em Libras e Português está tomando novas dimensões. O premiado evento Hora do Conto apresenta histórias transmitidas online, como contos tradicionais de origem europeia, indígena e afro-brasileira possibilitando transformações na vida dos surdos, que hoje são mais de 10 milhões no Brasil.

O acesso a histórias e narrativas pode auxiliar a inclusão social dos surdos e facilitar na comunicação com suas famílias, que são formadas, em sua maioria, por ouvintes, além de ampliar o contato com o imaginário ocidental e favorecer as relações humanas.

A Hora do Conto, projeto de extensão desenvolvido originalmente na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás (UFG), teve início em 2012 e perdura até os dias atuais, composto por professores, intérpretes de libras, alunos e a comunidade em geral. Esses encontros agora ganham sua versão online, com histórias contadas, simultaneamente, em Português e em Libras. Para assisti-los e conferir a programação completa, basta acessar www.ahoradoconto.com.br e se inscrever.

Cada história dura aproximadamente meia hora, e ao final, é aberta uma conversa informal sobre os temas abordados por ela. As apresentações são feitas prioritariamente pelas professoras e intérpretes de Libras, mas o público que prestigia o projeto na versão presencial é incentivado a participar e a contar também outras histórias. Um surdo que nunca ouviu histórias, fábulas e contos ao ter contato pela primeira vez com essas narrativas, às vezes já adulto, se emociona ao reconhecer o mundo imaginário com que a maioria dos ouvintes tem contato desde a infância.

Origem
O projeto foi inicialmente concebido na UFG pela escritora e professora Sueli Maria de Regino. Hoje é coordenado pela fonoaudióloga e linguista Alessandra Campos, também docente na instituição. “Trabalhando com leitura e escrita de diferentes textos, Sueli constatou que alguns alunos surdos não conseguiam entender certos elementos do texto, como a noção temporal”, explica Alessandra. Ela conta que a professora observou que as dificuldades desses alunos se deviam à falta de exposição à leitura de textos da tradição popular.

Pensando nisso, Sueli Maria de Regino idealizou o projeto, com o propósito de oferecer aos alunos surdos e ouvintes o contato com histórias e, por meio delas, trabalhar a leitura e a escrita, em especial, dos surdos. “Para a professora Sueli contar as histórias em português oral, era necessário que alguém as traduzisse para a libras, e eu me ofereci de imediato”, relata Alessandra. Hoje, também participam da iniciativa a tradutora para libras Mariá de Rezende, a contadora de histórias e professora Taísa de Carvalho, o produtor visual Benelzo Batista e o produtor Pablo Regino.

Biblioteca
No início do projeto, eram narrados apenas os contos dos Irmãos Grimm, depois as docentes procuraram acrescentar contos indígenas e afro-brasileiros, além de outros solicitados pelos próprios alunos. Em 2017, foi criada a biblioteca infantojuvenil virtual, Bibliolibras, que contém contos em libras, português oral e escrito, garantindo às crianças, incluindo surdas e cegas, o acessoa gratuito a essas histórias em www.bibliolibras.com.br.

Importância
Tradutora na Hora do Conto e no programa semanal de contos dos Irmãos Grimm da TV UFG, Mariá de Rezende afirma que a libras é fundamental para que a população surda tenha igualdade social. “Se todos colaborarem para a valorização dessa língua, os surdos poderão se sentir mais respeitados e acolhidos”, opina Rezende. Além disso, a profissional avalia que contar histórias é uma forma de conexão com os outros e consigo mesmo. A coordenadora Alessandra completa que “as histórias nos constituem enquanto pessoas, nos espelhamos no passado e por meio delas fazemos projeções para o futuro”.

Mariá relata que, após a interpretação de um conto, percebe que as pessoas se lembram de fatos de suas próprias famílias e de problemas da sociedade. “Na maioria das histórias há sofrimento, mas há superação e vitória”, atesta a tradutora. Rezende conta que recebe depoimentos dos participantes surdos sobre as dificuldades enfrentadas pela diferença linguística, e da conquista que é conseguir viver em um mundo feito para ouvintes. “A barreira da comunicação é a principal dificuldade do sujeito surdo desde criança, mesmo na convivência com o seu primeiro grupo social, que é a família”, conta.

Acessibilidade
Mariá interpreta para o projeto desde 2014, e busca fazer a tradução para Libras, enfatizando a emoção e a lição que o conto passa em português. Para que os surdos, ao assistir as histórias, tenham a mesma leitura que os ouvintes. “Estudo imagens de contextos da época do respectivo conto, para estimular a imaginação do leitor. Por exemplo, quando é mencionado um caçador, utilizo um artefato que o caracterize”, explica a intérprete. Ela faz o mesmo com a vestimenta, a arquitetura e demais objetos e cenários que sejam descritos no texto.

A professora Campos diz que a equipe busca garantir a acessibilidade linguística das pessoas que prestigiam os encontros, surdos e ouvintes. “Tentamos proporcionar um ambiente intimista, onde as pessoas se sintam à vontade para se manifestar”, relata. “Temos lindas histórias que colecionamos durante esses anos de trabalho, que são as devolutivas das pessoas que frequentam nossos encontros”, acrescenta. Dentre essas, estão as de surdos que se emocionam por não conhecerem as narrativas, mães surdas que as aprendem para contá-las para seus filhos e alunos ouvintes que aprendem para contar aos pais surdos.

ACESSO GRATUITO
Hora do Conto
Programação, inscrições e mais informações em https://www.ahoradoconto.com.br/

Bibliolibras – Biblioteca Bilíngue de Literatura Infantil e Juvenil (Libras e Português)
Acesso ao acervo, informações sobre o projeto e mais em http://www.bibliolibras.com.br/

Fonte: Terra

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