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Intérpretes fazem show à parte atrás dos palcos, traduzindo músicas nacionais e estrangeiras com gestos e rebolados

Ela reproduz cada passinho que Ludmilla faz em cima do palco do Lollapalooza para uma legião de fãs, mas não é dançarina. Divide o telão com a cantora, mas tampouco é artista.

A única semelhança de Thamires Ferreira com Ludmilla é o sotaque e o molejo de cariocas da gema. Thamires é, na verdade, intérprete de Libras, uma nova presença nos telões dos palcos do Lollapalooza que tem chamado atenção do público.

Atrás do palco, num contêiner de não mais do que três metros quadrados, Thamires faz um show à parte. Atrás de um fundo verde, com uma televisão para assistir à apresentação e uma câmera à frente para projetá-la no rodapé do telão, ela traduz não só as letras e as falas da cantora, mas também seus movimentos.

Não é a primeira vez que o Lollapalooza conta com intérpretes de Libras. Eles começaram no ano passado. Mas antes ficavam só na plataforma à frente dos palcos que são dedicadas a pessoas com deficiência.

Depois de pouco mais de cinco minutos, Thamires sai de cena e dá lugar a um colega, que segue o show e, dali a outros poucos minutos, é substituído por um terceiro intérprete. É que interpretar, eles contam, cansa demais. Para cada palco, são quatro profissionais, que a cada duas ou três músicas se revezam.

“A gente precisa de uma equipe grande, porque em shows internacionais, por exemplo, escutamos em inglês, traduzimos na cabeça para o português e jogamos para Libras. São duas traduções simultâneas. Cansa muito”, diz Thamires, que trabalha há quase uma década como intérprete.

À frente da câmera, vale tudo para passar a mensagem. “O surdo está ali sem sentir o ritmo, e queremos que ele sinta a mesma coisa. Se é rock, a gente levanta os dedos principais e balança a cabeça. Se é o beat do funk, a gente rebola mesmo.”

Até este sábado, segundo dia do festival que acontece no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, ela diz que o show mais difícil de interpretar foi o de Kali Uchis. Isso por causa das letras da cantora, que transpiram sensualidade. “Precisei empregar uma sensualidade muito grande, mas não podia brigar com o balé dela. Tive que me conter.”

A presença dos intérpretes nos telões dos palcos, também vista no Rock in Rio e no Primavera Sound do ano passado, traz mais autonomia ao público que precisa deste suporte, na avaliação da intérprete. “Agora, o surdo pode andar para qualquer lugar que vai ter acessibilidade. Ele não vai estar mais preso na plataforma para deficientes.”

Fonte: Folha de S. Paulo

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