Fonoaudióloga de São Carlos teve ideia e artesã fez material que foi entregue para associação. Objetivo é auxiliar na leitura labial ou complementar a Libras com segurança contra o coronavírus.
Uma iniciativa de voluntárias confeccionou 80 máscaras com visores e doou para a Associação de Surdos de São Carlos (ASSC). A maioria já foi entregue para estabelecimentos comerciais, bancos e Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) com o objetivo de ajudar na comunicação com esse público.
A ideia é promover um diálogo acessível e ao mesmo tempo seguro para aqueles que utilizam a leitura labial como forma de comunicação ou complemento da Língua Brasileira de Sinais (Libras).
“As máscaras com visores não permitem a todos os surdos terem acesso à leitura labial, pois não são todos que dominam isso. Mas ela também pode ajudar na visualização das expressões da boca quando a pessoa estiver sinalizando”, explicou a vice-presidente da ASSC, Mariana Isaac.
Surdos oralizados
Segundo o professor de Libras João Fernando Ramazzine, a área da surdez é muito diversa. “Não é todo surdo que usa a Libras”, disse.
No caso de pessoas que utilizam a fala oral e/ou a leitura labial para a comunicação, são chamados de surdos oralizados.
Há ainda os deficientes auditivos que, diferentes dos surdos, são pessoas que utilizam aparelhos para ouvir e/ou também usam a leitura labial para acompanhar as informações.
Dificuldades
Com a pandemia e a obrigatoriedade do uso de máscaras, a comunicação foi afetada, já que as máscaras de pano ou cirúrgicas cobrem a boca e impedem essa leitura.
“Quando a pandemia começou, percebi a grande barreira para me comunicar com os ouvintes. O risco era enorme na hora de conversar, pois precisava abaixar a máscara para a leitura labial”, contou a vice-presidente Mariana, que é surda congênita.
No caso de Mariana, ela é bilíngue, ou seja, fala português e Libras, mas para a atendente Marta Camargo, que é deficiente auditiva, a fala oral em português é a única forma de comunicação.
“Eu não falo Libras, só português normal. Mesmo ouvindo com a a ajuda do aparelho, a leitura labial é crucial. A pandemia está atrapalhando muito a comunicação por causa das máscaras”, comentou.
Ideia
Ao perceber o problema, a fonoaudióloga e aluna do curso de Libras na ASSC, Isabela Benedicto Machado, teve a ideia de produzir as máscaras com visores e doar para a instituição.
Segundo ela, ao ver uma reportagem na TV sobre o assunto, entrou em contato com uma clínica que estava doando, mas como a quantidade era muito grande, decidiu procurar alguém para confeccionar.
“O perfil da clínica me mandou um tutorial que estava no Instagram deles, ensinando como produzir. Entrei em contato com uma amiga, que já estava produzindo algumas máscaras de tecido e ela aceitou me ajudar na ideia”, contou.
Produção
“Eu topei logo de cara. Achei a iniciativa bacana e muito importante”, disse a artesã Rubia Sampaio, que já produzia máscaras desde 2018, como doação para hospitais oncológicos.
Segundo ela, os equipamentos são feitos com plástico cristal, tiras de pano e elásticos. “Os moldes são de um tamanho um pouco maior que o tradicional para facilitar a respiração”, contou.
Todo o material foi comprado pela própria artesã e a costura foi feita e uma máquina doméstica. “As 80 máscaras foram produzidas em dois dias. Fiz tudo sozinha”, completou.
Doação
As máscaras foram doadas para a ASSC e, como a iniciativa é pioneira, os coordenadores precisaram se organizar para entender onde seria mais proveitoso fazer a distribuição dos itens.
“Nós tínhamos dois possíveis destinos e um era doar para a própria comunidade surda, mas entendemos que não faria muito sentido o surdo estar usando uma máscara com visor e a pessoa que ele vai se comunicar não”, explicou a presidente da instituição Joyce Cristina Souza.
Com isso, os coordenadores optaram por doar para os estabelecimentos que atendem o público e, para escolher os locais de maior importância, fizeram uma consulta com a comunidade surda da região.
“Eles citaram hospitais, postos de saúde, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), comércio, padarias, bancos, dentistas, médicos. Entregaram uma lista de lugares e a partir daí começamos a fazer o contato”, disse Joyce.
Algumas máscaras também foram distribuídas para surdos e deficientes auditivos.
Distribuição
As máscaras foram entregues para o supermercado Savegnago, Caixa Econômica Federal e UPAs da Vila Prado, Santa Felícia e Cidade Aracy.
“O supermercado disse que vai utilizar essas máscaras com os caixas preferenciais. Com a Caixa Econômica Federal, doamos uma para cada agência, e aí aquela pessoa que fica no atendimento vai fazer o uso dessa máscara”, explicou Joyce.
O restante dos itens ainda será doado para outros estabelecimentos e, segundo a secretária da ASSC, Mayara Balbino, a meta é expandir o projeto.
“Como o uso da máscara vai ser obrigatório por um tempo, caso chegue um surdo [no local] agora vai facilitar”.
Fonte: G1