Apesar da Lei de Acessibilidade exigir sessões inclusivas para PCDs, cinemas de Ji-Paraná não cumpriam com a determinação.
A Associação dos Surdos e Familiares conseguiu quebrar mais uma barreira social que impedia pessoas surdas e deficientes auditivos de terem mais acessibilidade cultural em Ji-Paraná (RO). Após quatro meses de manifestações públicas, a entidade participou de uma reunião com o Ministério Público Federal (MPF) e, no encontro, ficou acordado que o Cine Milani passará a exibir filmes com legendas todas as terças-feiras, às 19h.
A luta por acessibilidade vinha desde outubro de 2019, quando a comunidade realizou uma manifestação nos dois cinemas da cidade. Diante dos protestos, o Cine Laser voltou a apresentar filmes legendados na cidade.
Por causa da negativa do cinema, a associação recorreu ao MPF para que o estabelecimento cumprisse com a Lei de Acessibilidade nº 10.098, prevista na Constituição Federal.
“Sabemos que a luta por inclusão não inicia e nem termina hoje, mas lutaremos constantemente e todos os dias para que a vida dos surdos e seus direitos sejam respeitados verdadeiramente”, declarou o presidente da associação, Ronaldo Veloso.
Apesar da conquista, a luta da comunidade por salas de cinema mais acessíveis ainda está longe de acabar.
O acordo firmado com o Cine Milani só garante dois meses de filmes legendados. Isso porque, para que os filmes sejam exibidos, é necessário que mais pessoas, além da comunidade surda, assistam as sessões legendadas.
Segundo a advogada Estefânia Marinho, membro da Comissão de Defesa do Portador de Deficiência da OAB/RO e voluntária da associação, ainda será feita uma campanha para conscientizar a população sobre a importância dos filmes legendados.
“Essa é uma luta que existe desde 2013 aqui na cidade. Foi travada pela comunidade surda para que seja honrado o direito de inclusão cultural.” relatou a advogada.
De acordo com a associação, a decisão deve beneficiar mais de duzentas pessoas surdas e deficientes auditivos. Uma nova reunião está prevista para acontecer logo no começo de abril, para avaliar a decisão e analisar os resultados.
Associação
Fundada em 2015 com o objetivo de unir e garantir o direito da população, a Associação dos Surdos e Familiares de Ji-Paraná ainda não possui uma sede própria e também não recebe auxílio por parte do governo, atuando de forma totalmente independente.
As salas de cinema com filmes mais inclusivos não são as únicas conquistas da comunidade. Em novembro de 2019, a associação conseguiu a autorização para criar um grupo com o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar, devido a limitação dos surdos de realizar chamadas de áudio em situações de risco.
“Desde a sua criação, a associação vem realizando movimentos e atuando para acabar com as dificuldades de comunicação existente. Por exemplo, sempre que um estudante surdos está sem intérprete, nós buscamos ajuda com os órgão responsáveis para que o aluno não fique sem o auxiliar nas aulas”, informou o presidente.
A associação também realiza constantes reuniões com empresas da cidade, junto com o Ministério Público do Trabalho, para conscientizá-las sobre a importância e a vantagem de contratar trabalhadores surdos.
Fonte: G1