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Apaixonada por Libras, missa sem Adriana nunca mais será a mesma para surdos

Aos 46 anos, Adriana morreu de covid-19, 2h depois de rezar com a irmã por vídeo antes de ser intubada.

Adriana Aparecida Seren falava com as mãos, ouvia pelos olhos e era apaixonada por bebês. Nascida em Ribas do Rio Pardo, caçula das mulheres, escolheu aprender e se aperfeiçoar na Libras (Língua Brasileira de Sinais) depois que o irmão, quatro anos mais novo, foi diagnosticado surdo.

Traduzir na língua de sinais nunca foi para Adriana um trabalho remunerado, babá profissional, ela fazia questão de sinalizar para a comunidade surda como ação voluntária, empenhada com muito amor.

Levada pela covid, no último dia 6 de abril, aos 46 anos, a intérprete teve homenagens à altura na missa de sétimo dia realizada ontem na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, onde dedicou tempo em traduzir missas e catequeses.

Adriana à esquerda, interpretando a encenação da Via Sacra em 2019.

Campista, não tinha quem não gostasse de Adriana e também quem, dentro da comunidade católica surda, não a conhecesse. Quem conta uma parte de sua história é a irmã Solange Aparecida Seren, de 48 anos, que dividiu a vida e também a casa com Adriana.

“Desde muito novinha ela se interessou, a gente morava no interior, e quando viemos para Campo Grande, ela quis aprender para conversar com o meu irmão”, recorda a assistente social.

A mudança da família para a Capital aconteceu 34 anos atrás. No total, eles eram em oito filhos, dos quais quatro hoje estão vivos. “Com 18 anos ela já sabia, mas nunca quis ser profissional remunerada, ela dizia que não queria mexer com Libras financeiramente e sim voluntariamente, que ela tinha escolhido ser voluntária dos surdos”, conta a irmã.

Pertencente à pastoral do surdo de Campo Grande, Adriana atuava como intérprete na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora e estava à frente no grupo de apoio ao surdo da igreja. A paixão pela Língua Brasileira de Sinais era dividida com os bebês. Adriana amava e desde os 16 anos era babá. Colecionando ao longo de três décadas de trabalho, muitas crianças cuidadas.

E foi no trabalho que a babá sentiu os primeiros sintomas, como tosse. Diabética e hipertensa, Adriana soube num sábado de folga que o bebezinho que ela cuidava testou positivo, ele havia sido levado ao médico devido a uma infecção de garganta.

“Quando ela ficou sabendo que o bebê estava positivo, no dia 20 de março, ela automaticamente também estava, tinha passado a semana toda com ele e estava com tosse. Ela ficou apavorada, tinha muito medo”, recorda Solange.

A família para quem Adriana trabalhava prestou toda assistência médica. Por volta do 12º dia de sintoma, a intérprete ficou pior, teve tontura, fraqueza e vista embaçada. “Ela pediu para ir ao médico, porque não estava passando bem e de lá foi para o Hospital Regional, de onde não saiu mais, quer dizer, saiu para o cemitério”, desabafa a irmã.

Fonte: Campo Grande News

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