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A Comunidade Surda de Maceió protestou neste sábado (30) contra o digital influencer Léo Lins

Acusado de praticar capacitismo em seus shows de stand up comedy.

Vale lembrar que o capacitismo é o preconceito praticado ou incitado contra pessoas com deficiência. Depois que um vídeo viralizou, recentemente, onde o influencer faz uma piada questionando se “um surdo com Parkinson seria gago”. Pessoas surdas de todo o Brasil se indignaram nas redes sociais e isso culminou na organização de protestos nos shows previstos para Aracaju-SE e Maceió-AL.

Em Maceió, estiveram presentes profissionais ouvintes e surdos militantes e representantes da Associação de Surdos de Alagoas – ASAL e da Associação de Surdos de Maceió – ASM.
No entanto, o influencer fez pouco caso da ação registrando os momentos em suas redes sociais novamente em tom de chacota. Segundo ele publicou, em Aracaju, foi pego de surpresa e posou para foto ao lado dos manifestantes. Em Maceió, não foi diferente. Além de anunciar que já aguardava os surdos, ele levou um cartaz escrito: “Fora Léo”. Com o cartaz, se deixou fotografar pelos presentes e repostou com deboche.

Ele ouviu uma das líderes do movimento, Isabel Alvim, com a interpretação de Libras para Português feita pelo intérprete Vinícius Leonel. Em sua fala, Isabel pediu mais empatia questionando: “E se fosse com você?” Aparentemente, o influencer não se sensibilizou com a causa. A psicóloga bilíngue, Aline Trindade esteve presente e relatou sua percepção sobre a situação: “Saí com o coração doendo… Depois de tudo que eu já experienciei sobre arte… Ver um “artista” que tem como seu projeto e ganha pão destruir a sociedade, contaminar com seu “(mau) humor ” e preconceito e capacitismo é mais do que deprimente, é assustador! Foi muito ruim saber que existem projetos na arte que visam enaltecer e edificar as coisas boas do ser humano/sociedade como também existem os projetos para adoecer a sociedade. Na hora que me dei conta disso, eu fiquei muito mal… Senti literalmente na pele o que a Comunidade Surda sente diariamente com a opressão e a invisibilidade. Lembrei de tantos artistas que estão aí fazendo o bem e a sociedade nem . Chega uma pessoa dessa e tá aí ganhando “rios de dinheiro” para destilar ódio. Porque a sociedade está se perdendo. E há projetos para isso! Há projetos!”

Em sua carreira, Léo tem acumulado processos por espalhar piadas preconceituosas com temáticas delicadas como gordofobia e racismo. O que ele não sabe é que esse tipo de discurso só fortalece o preconceito na sociedade que julga as pessoas fora do “padrão” como anormais e incapazes. Principalmente em relação às pessoas com deficiência que há anos lutam incessantemente por mais acessibilidade. Essas pessoas são cerca de 24% da população brasileira, de acordo com o último censo do IBGE (2010). São vozes silenciadas e ignoradas muitas vezes até no ambiente familiar.

Sobre o acontecido, Isabel Alvim, pedagoga surda e militante da causa disse: “Eu defendo a Comunidade Surda que é quem sofre com o capacitismo e nós pessoas surdas não aceitaremos essa opressão, pois sempre somos vítimas de piadas e apelidos como “mudo”, “surdo-mudo”, “mudinho”. Chamam a Língua Brasileira de SinaisLibras erroneamente de linguagem. Por não aceitarmos essa postura do Léo Lins, fomos nos manifestar publicamente na frente do teatro com cartazes que explicavam esses erros para provar que os surdos têm voz sim! Mesmo a maioria dos ouvintes acreditando que não. Esse pensamento capacitista também contribui para que a sociedade duvide de nossas capacidades enquanto cidadãos e isso afeta o nosso dia-a-dia. Nós queremos dizer que somos capazes sim! Fomos ao teatro não contra o Léo, mas contra o que ele disse. Por ser famoso na internet, tudo o que ele fala ou faz influencia muitas pessoas a pensarem como ele. Ao reproduzir esse discurso capacitista ele estimula as falas equivocadas sobre a comunidade surda. Isso precisa acabar! Nós queremos RESPEITO! Queremos que a sociedade perceba que temos uma identidade e uma língua capaz de aca sociedade aprendesse Libras seria possível compreender melhor os sujeitos Surdos e quem sabe ter mais empatia. Falta a convivência com pessoas Surdas. Falta a inclusão na sociedade.”

Diferente dele, o humorista Whindersson Nunes, que já cometeu um erro parecido em 2019, após o ocorrido, aprendeu Libras e pediu desculpas para os surdos publicamente na TV aberta. Atualmente, o humorista foi notícia ao divulgar o protótipo de um projeto, financiado por ele, para a criação de um aparelho que ajuda os surdos a sentirem a vibração das músicas no corpo.
Cabe a cada um escolher que legado deixará: o mensageiro da exclusão ou da inclusão para um mundo melhor.

Fonte: Texto coletivo elaborado pelos membros da Comunidade Surda Maceioense.

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